sábado, 26 de junho de 2010

Um Frankenstein diferente

De vez em quando nossos editores dão uma dentro.
A Editora Arx – um dos selos da Saraiva Editorial – lançouno ano passado a edição nacional de Frankenstein, publicação da espanholaParramón Ediciones e de autoria de Sergio A. Sierra e Meritxell Ribas.
Num mundo habitado por seres super poderosos, com músculos ecoxas turbinadas, em histórias com a profundidade de uma tampa de cervejaamassada no chão, publicar um gibi tão autoral é – para se dizer o mínimo – umato de coragem.
E é de coragem que o leitor precisa estar munido paraencarar a empreitada.
Coragem em se permitir uma experiência única em quadrinhos.

Frankenstein, todos sabem, é aquele cara feito de cadáveres,com parafusos no pescoço, monossilábico, retornado à vida por um cientistapinel e com uma força destrutiva sem precedentes.
Só que a definição acima – que até minha sobrinha de oitoanos sabe – não está, nem nunca esteve, na obra original de Mary Shelley,exceção feita à força sobre humana. Trata-se de uma percepção coletiva, produtode décadas de apropriação da Criatura de Frankenstein nas mais diversas mídias.
Mas não se enganem, jamais falarei mal do clássicoFrankenstein da Universal, com a inesquecível atuação de Boris Karloff, quepraticamente definiu o visual do monstrengo e plantou as bases de todas asoutras adaptações subseqüentes.

Acontece que o livro é bem diferente.
Frankenstein não é o monstro, mas sim o obstinado cientistaque recriou de cadáveres uma criatura única: um ser incompreendido e desprezado pela sua repugnante aparência, abandonadopor seu criador e condenado a viver solitário até o dia de sua morte. Umfilósofo putrefato, tão humano como eu ou você, sensível e comovente, cruel eodioso.

Para se ler o espanhol Frankenstein é necessário esquecertodos os desenhos e filmes que você já viu e tentar se lembrar daquelas poucaspáginas que leu – se leu – do romance original.
Digo poucas páginas porque eu mesmo tentei ler a obra trêsvezes, e sempre a abandonei por conta da decepção em perceber que aquele nãoera o Frankenstein que eu esperava.
Só fui concluir a leitura depois dos 30. E quando cheguei aofinal percebi que o livro não era chato, chata era minha insistência juvenil emesperar encontrar um filme de terror naquele livro fantástico, cheio demetáforas e críticas à sociedade do século XVIII, que começava a morrer sob aforte luz das magníficas novidades científicas e tecnológicas daquele séculoque se iniciava.

O álbum procura resgatar o sabor do romance original. Aoapresentar a história num meio de comunicação onde  a personagem foi explorada à exaustão, corria orisco de parecer pretensioso ou, sendo ainda mais duro, se tornarincompreensível.

Não é o caso. Frankenstein é um álbum belíssimo, que podesoar, num primeiro momento, estranho aos nossos olhos tão acostumados a capasesvoaçantes, mas que numa leitura mais acurada e despojada, nos proporcionamomentos de prazer intenso.

É claro que 250 páginas de romance não cabem em 90 dequadrinhos. Mas o eficiente roteiro de Sergio A. Sierra dá conta do recado. Aopincelar os principais pontos cronológicos da história, Sérgio nos guia pelatrama, guardando para os diálogos pontos específicos sobre a contextualizaçãohistórica e científica da época, além de estruturar de forma convincente apersonalidade das personagens.

E se era fidelidade a obra original o que os autores sepropunham, isso é muito mais do que poderíamos esperar.

Mas tanto esmero dramatúrgico poderia ser um fiasco caso adesenhista resolvesse colocar aqueles benditos parafusos (desculpe Boris) na Criaturado Dr. Victor Frankenstein.

Mas não foi isso que Meritxell fez. Aliás, a arte dessa meninaé algo de outro mundo e merece um comentário à parte.

Meritxell se utiliza duma técnica de pintura chamada grattage.Lembram-se das aulas de Educação Artística na escola, quando a professora pediupra pintar um pedaço de cartolina com giz de cera, cobrir todo esse giz comtinta nanquim e depois mandou a gente desenhar sobre aquela superfície pretacom a ponta do compasso?
É mais ou menos por aí.  E é claro que a arte de Meritxell em nada separece com aquelas casinhas e florzinhas do incompreensível “C” em nossoboletim.

A técnica, ao invés de limitar seu traço, lhe conferiu umaexpressividade bastante apropriada à amargurada e sombria história.
A luminosidade nos olhos das personagens chega a serfantasmagórica, os desenhos parecem ter vida.
Tudo é um deleite gráfico: do enquadramento das cenas aambientação (com um impressionante nível de detalhamento). A cena ao túmulo da esposamorta do Dr. Frankenstein é uma daquelas imagens que colam na retina e moem océrebro. Eu juro, a retratação da chuva na cena chega a respingar em nossosrostos.

E tem a Criatura...

Senhores peguem suas armas. Senhoras escondam suas crianças.
A Criatura de Meritxell dá medo. Não possui cicatrizes, nãoé desengonçada, não anda com aqueles braços de sonâmbulos e, claro, não se vênenhum parafuso em seu pescoço.
É um Frankenstein triste e comovente. E também perigoso.
Seus olhos vazios revelam todo o ódio causado pela suadeserção, seu corpo descomunal revela toda a desgraça que pode infringir.
É um monstro sem em nenhum momento tê-lo sido de fato. Umassassino que não nos mostra o sangue em suas mãos.
É a morte em vida, com toda a tristeza que essa afirmaçãocarrega.

Não se trata apenas de uma bola dentro, foi um gol de placada Editora Arx.
E tudo isso numa embalagem apropriada, com capa dura e papelde altíssima qualidade. E o melhor: com um preço pra lá de honesto. O que nosfaz desconfiar de algumas editoras que cobram o dobro por produtos com o mesmoacabamento.

A única ressalva à edição nacional é a falta de informaçõesbásicas sobre a edição original e seus autores – completamente desconhecidos dopúblico brasileiro. Umas 03 páginas a mais só fariam bem aos leitores.

Mas isso é um defeito perdoável numa publicação com tantasqualidades.

Como disse no começo, é de coragem que o leitor precisaestar munido para encarar a leitura de Frankenstein, pois se trata de um álbumraro.

domingo, 20 de junho de 2010

O dia em que perdi a batalha para os Gauleses

Num sábado de 1992, eu estava no sofá quando a campainhatocou. Os dois rapazes fizeram questão de se identificar. Eu estava tranqüilo.

Dias antes o diálogo insólito:
- Sim, eu gostaria de doar os meus gibis.
- Tudo bem, o senhor pode trazer aqui, vou passar oendereço...
- Moça, a senhora não está entendendo. Eu não tenho carro.
- Infelizmente senhor, não temos condições de ir buscar emcasa.
- Moça, é que são muitos.

A voz do outro lado parou. Quando voltou, não escondia umadiscreta excitação.
- Quantos gibis exatamente, senhor?
- Mil duzentos e oitenta e dois.

Quando os rapazes colocaram a última das seis caixas naKombi branca eu sabia que havia acabado. Não esperei darem partida, entrei emcasa sem olhar para trás.

Foram 11 anos de coleção – de 1979 a 1990 – e que hojeengrossam as fileiras da Gibiteca Henfil.
Fuçando tudo o que foi sebo e banca de usados – do Centroaté Guaianases, no extremo leste da cidade – havia conseguido as coleçõescompletas de Superaventuras Marvel, Homem Aranha, Incrível Hulk, Heróis da TV,A Espada Selvagem de Conan, os clássicos Batman e Super Homem, dezenas deminisséries completas e uma série de outros títulos de vida curta. Praticamentetudo o que a Editora Abril havia publicado da Marvel ou da DC entre os anos de1977 e 1990.
E não terminava nos cruzados de capa: dezenas de Calafrio,Mestres do Terror e Kripta, muita coisa da Ebal e da RGE, vários Fantasma eMandrake e pelo menos uma dúzia de Tex cuja numeração ainda hoje me trazarrepios só de imaginar o preço que valem.

Passadas quase duas décadas nunca me arrependi daquela decisão.Naquela época, havia decretado o fim dos quadrinhos na minha vida.

Mas esse negócio de gibi – já gritavam discípulos do Senador McCarthy há mais de meio século – tem participação com o tinhoso.
Uns três anos após aquele fatídico sábado, fuçando num seboatrás de algum livro do Garcia Marques, trombei com um gibi do Asterix.
Asterix foi uma das minhas paixões na adolescência e uma daspoucas coisas que eu lia e que não possuía um S, um morcego ou uma aranha nopeito.
E aquele eu não havia lido, então comprei.
Juro que era só para ter alguma coisa pra ler no metrô.

Eu sei que tem gente que diz “é só dessa vez e depois nuncamais”, “estou limpo, parei de usar, palavra”, “foi só pra tirar uma, agora pareimesmo”.
Não foi o meu caso. Eu nunca deveria ter comprado aqueleAsterix.

Escondi o fato da família por mais uns dez anos. De vez emquando minha mãe me via com um gibi na mão, mas fazia vistas grossas, achavainofensivo. Ledo engano.

Aqueles anos de leitura solitária, dando os gibis proprimeiro moleque que eu encontrava na rua apenas para não aparecer com provasem casa, me convenceram de duas coisas:

1. Eu nunca deixaria de ler gibis na minha vida. 
2. Eu devia ter guardado pelo menos umas duas centenas de exemplares daquela coleção...

    Já casado, morando no pequeno apartamento aqui de Itaquera,decidi que era hora de assumir a minha real condição de nerd. Ou melhor,decidiram por mim.

    Minha esposa – discreta como sempre, certeira como nunca –chegou um dia e me disse:
    - Por que você não pára de tentar me esconder que voltou acolecionar gibis?

    O medo gelou minha espinha. Fui burro e descuidado, elahavia descoberto. Parecendo um adolescente pego fazendo bobagem no banheiro,perguntei:

    - Você está brava?
    - Não. Só acho engraçado você vir pro quarto com um gibidentro da blusa e escondê-lo no meio dos livros. Já está começando a fazervolume. Achou que ia conseguir esconder isso de mim até quando?

    Senhores, eu não sei sobre vocês, mas naquele dia eu era ohomem mais feliz do mundo. Havia conseguido algo que todos invejam: salvoconduto para comprar meus gibis.
    A única pessoa com kriptonita o suficiente para me deterhavia dito que estava tudo bem. Aquilo foi a minha poção mágica do druidaPanoramix. Nada mais me impediria.

    Outro dia ouvi um comentário maldoso de uma mulher no metrô.Ela disse a amiga, num mal disfarçado cochicho, que era uma vergonha ummarmanjo como eu ler gibi, parecia criança.

    Eu pensei em lhe explicar que eu não sou apenas um marmanjoe que provavelmente seria mais velho do que ela. Pensei em esfregar-lhe na cara"Shazam", do Álvaro de Moya (que por acaso estava dentro da minha mochila naqueledia). Pensei em lhe dizer que existem gibis para crianças, para adolescentes e paramarmanjos sem vergonha na cara como eu. Pensei em lhe falar como alguns gibisrivalizam com as melhores obras literárias da história.

    Mas acabei soltando uma sonora gargalhada. As duas meolharam espantadas.
    Sem pestanejar, atirei à queima roupa:

    - O Obelix... Acabou de estapear mais um romano.

    segunda-feira, 14 de junho de 2010

    Xampu: sexo, rock e o canto da boca sempre queimado


    Acabei decomprar Xampu.
    Não, eu nãosou tão vaidoso assim a ponto de postar a minha marca preferida, tampouco estoutentando enganar a genética e o tempo com algum miraculoso produto que garantaque a queda possa ser evitada.
    Minhaslongas madeixas douradas ficaram em algum ponto entre as décadas de 80 e 90.
    E éexatamente sobre isso que gostaria de falar.
     
    Xampu: lovely losers é o novo álbum de Roger Cruz. Eálbum é a palavra exata. O li como se ouvisse um long-play.
     
    Nuncaconheci a fundo o trabalho do Roger Cruz. Ele começou a fazer sucesso e adesenhar para a Marvel justamente na época em que eu havia decretado a mortedos quadrinhos em minha vida, lá pelo final dos 80 e começo dos 90. Sabia queera um bom desenhista e começava a ganhar projeção no mercado norte americano.Vez ou outra lia alguns trabalhos seus, folheava algumas histórias, mas nuncasegui a sua carreira. Estava em outra.
     
    Para falara verdade, estava em outras e geralmente chapado.
     
    Terminei adécada de 80 cheio de dúvidas e iniciei os anos 90 com algumas certezas. E com aquela autoconfiança própria dos 19 anos, comecei minha empreitada.
    Saía as quintasà noite e só terminava a jornada aos domingos, depois das dez (da noite,claro).
     
    Sempreestava acompanhado de um bando de loucos cabeludos, com camisas estranhas,cheias de caveiras e menções a cultos satânicos, com tatuagens não menosesquisitas.
    Qualquer umpodia nos achar se soubesse onde procurar: Fofinho, Ledslay, Churrasbom,Kasebre (primeiro na Vila Nhocuné, depois na Avenida Líder) e, claro, no lendário Bar do Aranha, na Vila Formosa.
     
    Vivíamosbêbados e com os cantos da boca queimados.
     
    Não havialimites.
     
    Mas comotudo na vida, numa hora os limites chegaram. Pelo menos para mim.
    Cansei dever amigos pularem da maconha para coca, depois para o crack e, a partir daí,para o abismo. Vi amigos com as mãos tremendo às 09 horas da manhã, mãos que sóse acalmavam depois de uma primeira dose. Éramos ainda crianças e muitos de nósforam tirados à força daquela viagem do Led Zeppelin pela falta de prudência euma gravidez não planejada, ou, em alguns casos, pela doença errada na idadeerrada.
     
    Aos queficaram na viagem e sobreviveram, eu hoje talvez pareça um alienígena:bancário, sóbrio, dormindo cedo e – para o horror supremo de muitos –apaixonado pela minha esposa.
     
    Mas paramim a viagem valeu. Foram nas farras ao lado daquela turma que aprendi que a vidaé algo único. Foi chapado que aprendi a falar de forma sincera e a me divertircom o sexo. Foi bêbado que conheci a mulher da minha vida e com quemcompartilho meus sonhos e decepções até hoje, uma década e meia depois.
    Se é certoque meu fígado ainda hoje cobra algumas daquelas farras, minha consciência, aocontrário, não cobra nenhuma.
     
    Xampu conta as aventuras e desventuras de uma turmanão muito diferente da minha, naqueles estranhos anos, com caras muito parecidos com meus amigos,freqüentando os mesmos lugares que eu ia, fazendo barbaridades próprias de umamolecada cuja maior preocupação era quem teria grana para comprar mais vinho,quem trouxe um ou com quem a noite terminaria.
     
    Aambientação, no personalíssimo traço de Roger Cruz, é perfeita. Tanto no apartamento onde tudo rolava, quanto nos bares ou naperiferia. É impossível não ouvir a trilha sonora enquanto se lê o álbum.
    Cruz não seesquece de nenhum detalhe: dos pôsteres nas paredes até a tipografia dostítulos das histórias, passando pelo vocabulário, capas de discos, roupas e até aquelesautomóveis quadradões que achávamos o máximo.
     
    Li o álbumno metrô, a caminho da periferia onde moro. Nada mais oportuno.
     
    Terminei deler com um nó na garganta. Com uma saudade danada do tempo em que ouvia um bome velho vinil do Black Sabbath, deitado no chão do quarto de um maluco, bebendocerveja e olhando para o vão da camisa daquela menina.
     
    RogerCruz fez um belíssimo gibi, para aqueles que estavam ou não naquela viagem.

    sábado, 5 de junho de 2010

    A Noite dos Palhaços Mudos

    Por conta de um curso de roteiro no SENAC, reliuma penca de gibis da minha coleção.
    Numa das tarefas, tínhamos que analisar duashistórias de roteiristas com estilos totalmente diferentes, mas dentro de ummesmo gênero. Fiz um catado e comecei a triagem das mais interessantes paraaquela tarefa. Uma coisa eu sabia: uma delas tinha que ser Asterix (sou viciadonos gauleses). Mas e a outra?

    Foi então que eu cruzei com o álbum “Piratas doTietê e Outras Barbaridades” (Editora Ensaio – 1994). Achei que o Laertedaquela fase daria um ótimo comparativo com o estilo refinado de Goscinny em“Asterix e o Escudo Arverno”.

    Só não imaginava o prazer que teria ao reler a “ANoite dos Palhaços Mudos”. A história original saiu na Revista Circo (nº 04 - 1987)e, ao contrário dos irredutíveis gauleses, suas personagens não eram – à épocade sua publicação – conhecidos do público.
     Eu já conhecia a história antes do álbum, li nooriginal – tinha 15 anos e aquela turma de cartunistas eram os meus heróis.
    Para quem não conhece, o enredo é simples: doispalhaços vão resgatar um terceiro em pleno covil de seus inimigos – um gruporeacionário bastante parecido com a TFP – Sociedade Brasileira de Defesa daTradição, Família e Propriedade.
    Entretanto, é exatamente na aparente simplicidadenarrativa que reside o grande trunfo da história.

    A primeira parte da história se reserva aapresentação das personagens. O autor nos apresenta dois dos palhaços mudos semse utilizar de um único diálogo. As situações são todas aquelas que gravitam aimaginação popular quando o assunto são palhaços. E por ser uma história emquadrinhos, são ainda mais exageradas, lembrando por vezes, os bons desenhosanimados de Tom e Jerry e do Picapau.
    A mistura – aliada ao requinte gráfico de Laerte –resulta em páginas brilhantes.
    Para reforçar o mutismo das personagensprincipais, Laerte faz uma economia total de onomatopéias, independente dabarbaridade mostrada na cena. Vemos estrelas rodando a cabeça dos palhaços,linhas de movimento, luzes e fumaça, mas som mesmo, só quando os palhaços jáestão no covil dos vilões.
    Sua história é silenciosa, só o humor fala.

    Já dentro do covil somos apresentados aosantagonistas da história – um grupo reacionário, que atribui aos palhaços mudosboa parte dos infortúnios da sociedade.
    Laerte aproveita aí para colocar a vilania lado alado com um legítimo representante da manutenção de coisas até então existente– o ano era 1987, não nos esqueçamos, acabávamos de sair de um regimeditatorial, a censura não estava completamente abolida e a democracia ainda usavafraldas.
    E em contraponto à mudez dos palhaços, os vilõesfalam.
    E como falam. Laerte consegue aí um raro efeitonarrativo: o diálogo, a palavra em si, transforma-se no vilão.

    É claro que nossos heróis conseguem resgatar seucompanheiro. Com direito a suspense e assassinato numa das melhores cenas dahistória. Os palhaços são mudos, mas a cena possui o diálogo clássico do humortambém clássico dos circos de bairro que víamos na década de 70.
    O problema é que a simplicidade do enredo coloca ahistória num beco sem saída. Pelos rumos da narrativa – a apresentação daspersonagens, o resgate e a fuga – a história carecia de um final impactante,sob o risco de ficar com aquele gosto de “Ué! Acabou?”.
    Sem a possibilidade de utilizar os diálogos com ospalhaços, Laerte opta por condensar toda a personalidade de nossos heróis nos03 últimos quadros. Um dos palhaços, já livre do perigo, volta ao portão docovil, aperta a campainha e sai correndo sob os gritos insanos dos vilões.

    Uma história inesquecível, contada de uma formaabsolutamente genial.